Arquivo | maio 2012

CONQUISTAS

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, de lágrima, nuvem, pudim da vó, brisa ou filosofia. Paquera, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito (até porque pra namorada além de bonito, é charmoso, inteligente, viril, soma de todos os adjetivos), mas tem que ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser decidida, ou bandoleira; basta um olhar de compreensão, carinho e atenção. Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar.  Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria, amor pelo celular, ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou largatixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos de amor com a felicidade ainda que rápida, escondida ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de lirios que chegam pelo correio e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa ou Vinícius de Moraes, lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto, comenta a fot cheia de poses ou quando discute futebol; de ânsia enorme de viajar junto para a Irlanda ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d’água, show do J Quest, bosques enluarados, fim de semana no campo e outro na praia pra agradar aos dois lados. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrada de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de fantasma e medo, ponha um vestido leve e bonito, deixe os cabelos ao vento e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração renovado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de morangos e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas. Se você não tem namorado porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida passar e de repente parecer que tudo faz sentido, encher a alma de coragem e dizer: QUER NAMORAR COMIGO??   

N.E.O.Q.E.A.V

O céu sem a lua e as estrelas, simples não é? Difícil mesmo é tentar imaginar e compreender o quanto eu estaria na escuridão da noite, quando não posso ver o brilho do seu sorriso. Tente imaginar uma aquarela sem as cores, simples não é? Difícil mesmo é tentar imaginar e compreender o quanto cinzento ficariam os meus dias sem o arco-íris dos teus olhos. Tente imaginar um caminho sem norte, simples não é? Difícil mesmo é tentar imaginar e compreender o quanto eu ficaria perdida se você me abandonasse. Tente imaginar um vencedor desistindo do pódio, simples não é? Difícil mesmo é tentar imaginar e compreender o quanto derrotado eu seria se desistisse de conquistar o teu amor. Tente imaginar um sábio com o diploma dos loucos, simples não é? Difícil mesmo é tentar imaginar e compreender o quanto leiga eu seria se não aprendesse a soletrar “eu te amo”. Tente imaginar um jardineiro cultivando espinhos, simples não é? Difícil mesmo é tentar imaginar e compreender o quanto tola eu seria se trocasse o teu amor e o teu carinho pela solidão. Tente imaginar e compreender tudo o que eu estou imaginando, quando estou pensando em você, e assim você irá compreender que a razão dos meus pensamentos sempre será você!

 

SIMPLES ASSIM…

Tem um segredo que as pessoas não contam, pois tem muita gente que não daria conta de digeri-lo: a sua vida pode ser do jeito que você quiser. Sem melodramas, sem discursos poéticos, sem sermões. O fato é que todo mundo nasce com livre arbítrio e vai construindo sua vida, escolha após escolha. Se você parar pra pensar e voltar no tempo, vai conseguir reconhecer e identificar todas as ações que te trouxeram até o exato lugar em que você se encontra hoje. Ora, mas então se somos realmente senhores do nosso destino, então porque tem tanta gente frustrada e infeliz hoje em dia? A grande variedade de opções à nossa disposição nos dias de hoje dificulta ainda mais as nossas escolhas. É como estar morrendo de fome, mas se perder em meio de um bairro com um restaurante a cada esquina – sua fome é real, mas você não sabe o que quer: você tem fome do quê? você tem sede do quê? Sem conseguir responder a essas perguntas, você rodará eternamente entre os restaurantes mexicanos, italianos, indianos, brasileiros, mas não conseguirá saciar a sua fome, pois você não tem ideia do que quer comer. Funciona assim também na área dos relacionamentos. Vemos a nossa volta um mar de gente linda, moderna, com bons empregos, com dinheiro, mas tudo isso não faz sentido algum se elas não sabem o que buscam. A moça arruma o cabelo, compra roupa, põe silicone, malha, faz as unhas, se equilibra num salto 15, mas chega na balada e, por não saber o que procura, só vai nos caras errados. Por falta de olhar pra dentro dela mesmo e de descobrir do que seu coração necessita, ela ignora os apelos do seu ser e vai em busca do que é considerado como modelo pela sociedade – o cara de carro do ano, gel no cabelo, braço forte, camisa polo. Ela não buscava isso mas como não sabe o que busca, se joga no vento, vai como um veleiro pra direção que a vida decidir levá-la. E depois ela chora, se lamenta, fica deprê no sábado a noite comendo pipoca sozinha quando as baladas já não a satisfazem mais. Não que há algo de errado em sair, beber, dançar, fazer aquela sessão descarrego tão necessária, mas esse tipo de programa só alimenta uma parte muito superficial do seu ser. Quando o som acaba, quando as luzes se apagam, quando o álcool do seu corpo se estabiliza depois do hot-dog prensado, então o vazio fica desesperadamente maior – a solidão ecoa no peito, obrigando a moça a sair de novo para não ouvi-la. E assim começa-se um ciclo de ilusões e de buracos no peito. Ah, os buracos no peito. Eles são sempre mais profundos do que você permite-se reconhecer. Se você não cuida, seu peito fica pior do que as ruas esburacadas de São Paulo. Vem a prefeitura, dá uma arrumada de leve, cobre superficialmente os buracos. Por fora, o asfalto é um tapete. Por fora, os que vêem seu sorriso nem imaginam a profundidade dos buracos que carrega por dentro. E depois de alguns dias, depois de serem pisoteados de novo, os buracos se abrem novamente, dessa vez mais profundos, mais machucados, mais difíceis de serem tampados. E você só pode fazer alguma coisa a respeito quando descobrir o que busca. Então, vai menina, desce do salto, larga o batom, mostra as olheiras, deixa seu cabelo natural se esvoaçar no vento. Não gaste muito tempo se preocupando com o corpo, porque a terra vai se ocupar dele cedo ou tarde – com ou sem maquiagem. Olha um pouco pra dentro, pra o que importa, pra sua alma que há tempos tenta ser ouvida. Desliga o som, fecha os livros, sai da frente da TV. Ouve aquele clamar que ninguém sabe explicar, mas que vem de dentro. E cuidado com a mente – ela abafa os clamores do coração. Não se perca na busca, nem desista dela. Pare somente quando descobrir o que buscas, o que te alimenta de verdade. Será mesmo que esse trabalho que te prende 14 horas numa sala fechada te faz feliz? Será que homem que diz que te ama mas que te valoriza mesmo pela sua bunda, merece fazer parte da sua vida? Será que esse curso vale mesmo a pena somente por um diploma pendurado na parede? Pra essas perguntas, não existe gabarito – só você poderá respondê-las verdadeiramente. E quando você descobrir o que procura e soltar um grande foda-se para os padrões que o mundo inteiro tenta te convencer a seguir, você então vai descobrir que a vida é boa, que é bela, que pode ser o que você quiser. E aí então, você vai querer lamentar pelos dias perdidos na escuridão – faça-o, mas não perca muito tempo revivendo o passado. Agora você já sabe – o presente é bom demais para isso.