Arquivo | novembro 2012

TRANQUILAMENTE

Vai ser difícil. Aliás, muito. Se fosse por motivos pra desistir, nem precisaria pensar. Vamos cada um pro seu lado. Se for pra pensar nos motivos que ainda nos unem, nada será capaz de nos convencer do contrário. Somos estranhamente ligados por um destino que parece nos separar a cada besteirinha. Só por não sabermos aproveitar a oportunidade que ele nos deu de ficar juntos. A verdade é que o amor coloca uma pressão enorme em nossos ombros. Não somos mais apaixonados. Não somos mais no sentido de que passamos daquela fase boba em que se ri de tudo e há descobertas. Aquela paixão passageira. Aquela coisa de ter interesse até conseguir algo e depois perder a graça. A gente ainda descobre que temos um tanque enorme de amor pra queimar, mas, repara, eu já até sei que ficar longe de você é uma grande merda. Com o passar do tempo, vamos tendo chance de mostrar, para tudo e para todos, que nos gostamos de verdade. Duvido que esses outros casais nunca tenham brigado. Duvido que nunca tenham ido dormir de cabeça quente, que nunca tenham olhado pra outras pessoas. Isso tudo passa, e a gente se dá conta de que quem vale a pena mesmo é quem está do nosso lado. Espero saber o que fazer da minha vida. Espero que você também saiba o que fazer da sua. Entretanto, espero que saibamos o que fazer da nossa. A interseção onde nossos caminhos se encontram, que ocupa cada vez mais espaço em mim, me preocupa. Tomara que você não se importe quando eu te pressiono para falar de nós. Sei que eu também fujo de falar disso. Vamos combinar, DR é um saco. Eu desligo, você liga. Eu fecho a porta, você chuta. Eu vou atrás de você, você se esconde. Eu faço surpresa, você não gosta. Você me pede um beijo, eu viro o rosto. Você me conta um plano, eu rio. Eu conto um sonho, você ri. No meio dos nossos erros e defeitos, a gente se ama. Somos comuns. Mais um casal no meio da multidão. Então, vamos com calma. Devagar. Eu não tenho pressa mais pra nada. Já achei você, já tenho você, e agora o plano é te manter na minha vida. Talvez a gente aprenda junto, talvez não aprenda nada. Talvez a gente siga o mesmo caminho, talvez os caminhos se separem. Aí, talvez você volte, talvez eu te procure e não dê certo. Talvez eu seja tudo que você sonhou, talvez você acorde e descubra que não. Talvez você chore no meu ombro, talvez me cubra de insultos por um erro. Talvez nada disso, só um amor tranquilo. Talvez, quer dizer, com certeza a gente não sabe. Só sabemos que somos comuns. E que devemos levar nosso amor com calma.

UM COMEÇO…

Você vai ser arrepender de ter me dado o primeiro beijo. Mas vai tolerar o segundo, gostar do terceiro e se entregar daí em diante. Você vai desejar não ter me conhecido. Depois vai se acostumar com a minha presença e, no final, vai se perguntar como viveu sem mim até aquele dia. Você vai sonhar comigo uma vez e achar que é pesadelo. Vai sonhar a segunda e achar que é perseguição. Vai sonhar a terceira e desejar continuar sonhando ou, então, acordar e dar de cara comigo. Você vai imaginar que eu não deveria estar no seu presente, não vai me querer no seu futuro, mas vai se perguntar como contar o passado sem falar de mim. Você vai esconder um monte de coisa de mim, vai contar algumas coisas, mas depois vai se abrir. Mas terá os segredos normais de qualquer pessoa. Você vai querer me matar. Vai querer me bater. Vai querer me surrar. Vai querer me abraçar. Vai querer me amar. Você vai querer aprender a me deixar ir, mas saberá que não tem como não ficar contigo. Você vai saber, perceber, notar e aprender um monte de coisa. Só um detalhe você não aprenderá: a me amar. Isso você sentiu desde a primeira vez. Tudo bem que no começo era misturado com uma certa raiva. Mas ele sempre esteve lá. – E quem briga contra o amor?

ESTAR APAIXONADA

Quem já viveu uma paixão sabe. Conhece bem os sinais, os sintomas do estar apaixonada. Não existe normalidade no tempo de quem se apaixona. Tudo é inquieto demais, é extrapolação o tempo todo: do sentir, do pensar, do querer. Os pensamentos parecem um turbilhão, passam a colar nos sentidos. A gente nem percebe onde se situa o pensamento ou o sentimento. É um amálgama sensorial a eletrocutar a pele, a nos deixar eletrizados dia e noite. Quem já se apaixonou conhece a diferença entre “estar amando” e
“estar apaixonada”. A paixão desequilibra, nos tira o chão, nos exacerba todos os sentidos ou até os multiplica. Às vezes as sensações são tão intensas, às vezes tão arrasadoras que já não se sabe se é o tato, o olfato, a audição, o paladar ou a visão que está sendo estimulada. É um mix. É um caldeirão de todas as bruxas do universo, cuja poção é preparada para alucinar, para seduzir irremediavelmente. Quem já se submeteu ao sortilégio de uma paixão conhece os caminhos do paraíso e do inferno também. Já percorreu as ruas enfeitadas de flores tal qual as
ruelas das cidadezinhas do interior em época de Semana Santa. E já teve a nítida sensação de levitar, de estar no céu em companhia divina. Mas também
experimentou a queimação das entranhas, o fogo da consumição do auto-flagelo. Pois a paixão inclui êxtase e sofrimento, leveza e o ranger de dentes. Quem já esteve apaixonado sabe da insegurança, conhece bem o ciúme, as noites mal dormidas, mas sabe também da contemplação, do brilho inigualável dos olhos e do gozo sem limites. Ah, são tantos e indefiníveis os sintomas da paixão! Mas o que mais me vem à
mente ao tentar explicitar o que sinto em relação a esse sentimento é que paixão é um amor sem juízo, um amor restrito aos sentidos, imaturo, inconsequente, mas não menos importante. É como se fosse um diploma para se chegar ao amor pleno. Muita gente pode até viver feliz sem nunca ter se apaixonado, mas quem viveu uma ou mais paixões estará mais suscetível a amar por toda uma vida, sem medo de ser feliz, pois passou pelas provações e pelo encantamento de uma entrega apaixonada.