DIA DOS NAMORADOS

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Esta é a semana dos namorados, mas não vou falar sobre ursinhos de pelúcia nem sobre bombons. É o momento ideal pra falar de sacanagem. Se dei a impressão de que o assunto será ménage à trois, sexo selvagem e práticas perversas, sinto muito desiludí-lo. Pretendo, sim, é falar das sacanagens que fizeram com a gente. Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra vale, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é racionado nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais rápido. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada “dois em um”, duas pessoas pensando igual, agindo igual, que isso era que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Ninguém nos disse que chinelos velhos também têm
seu valor, já que não nos machucam, e que existe mais cabeças tortas do que pés. Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que poderíamos tentar outras alternativas menos convencionais. Sexo não é sacanagem. Sexo é uma coisa natural, simples (só é ruim quando feito sem vontade) Sacanagem é outra coisa. É nos condicionarem a um amor cheio de regras e princípios, sem ter direito à leveza e ao prazer que nos proporcionam as coisas escolhidas por nós mesmos.

CLICHÊS

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Você é aquele retrato na estante que eu insisto em olhar e não acreditar que tive tanta sorte. É a saudade que gosto de ter, gostosa de sentir, com gosto de querer mais. É a vontade que me pega numa manhã de trabalho sem graça e me incendeia numa noite em que não temos hora pra dormir. É mais um monte de definições que caberão nesse texto, mas uma coisa eu não consigo fazer. Não consigo dizer qual delas melhor te encaixa. Tão plural na minha vida, seria um pecado te resumir.
Ou não. Posso me apoiar no clichê de dizer que você é tudo. Que a ausência num dia quente me deixa fria, ou que num dia frio me deixa gelada. Imagina aquele caminhão de sentido que uma pessoa põe na vida da outra. É você na minha. Você é essa Coca-cola toda, só que não engorda. Você é importante hoje, imagina na Copa. Eu vou te tomar devagar. Porém, terão dias que engolirei teu amor, partirei pra cima com tanta força que me pegarei em impedimento. Você é o ataque que, na mesma linha da defesa, sai de cara pro gol. Só empurrar.
Bola fora todo mundo chuta. Não vou começar a prometer mundos e fundos. Saiba apenas que, no latifúndio que é meu coração, dividido entre tantos amigos, família e coisas que gosto de fazer, um dos maiores pedaços é seu. E esse relacionamento, regado a beijos, carinhos e uma boa dose de olhares provocantes, ainda nos dará muitos frutos. Hei de nunca cansar de provar do teu sabor. Gosto igual, jamais normal.
Sem enjoar, vai ser difícil desgrudar. Tirando esses momentos em que fico reflexiva, encarando a foto e gastando meu tempo pensando porque a saudade morde tão forte, a gente junto é só sucesso. Aliás, não é perder tempo. Se minha vida é dividida em antes e depois de você, é aceitável que eu fique cinco minutos te materializando e fechando os olhos e pensando e podendo sentir você deixando minha nuca arrepiada como nunca ficou (como sempre fica).
Sobe mais um frio pela espinha ao pensar em te perder. Bate na madeira três vezes, xô mau olhado. E acreditar que eu tive e ainda dou tanta sorte de você olhar pra mim e se manter interessado. Você é o retrato que eu olho, re-olho e é o clichê que eu gosto de ter. Cada beijo é um gol. É um arraiá no latifúndio. Sem cansar. Sem deixar de amar.

AINDA TEMOS TUDO

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O que restou da gente?, comecei me perguntando. Dos encontros que podíamos ter, já não temos. Das conversas em que ouvia sua voz assim que ligava, agora só com hora marcada. Dos nossos papos mais ardentes, agora só tenho um relatório de com…o foi seu dia e você descobre como foi o meu pelas palavras automáticas e conhecidas que voam pela tela do computador disputando espaço com outras coisas mais piscantes. Essa distância é uma merda. Claro que confio o suficiente para saber que você está aproveitando. Confio no seu gostar de viver a vida. Se vai me contar o que faz ou não é problema seu e da sua consciência. Afinal, eu daqui pretendo não te contar todas as vezes que chorei por sua causa. Nem mesmo se no meio desse e-mail eu parar de escrever só pra ir ao banheiro. Pior é quando chega a madrugada. Na calada da noite, saudade invade meu quarto pela fresta da porta que está trancada. Puxa o lençol, se deita do meu lado e eu posso ver os olhos grandes com o sorriso amarelo de quem sabe que vai me deixar acordado até de manhã. Queria te escrever, mas não devo. Queria te gritar, mas não ouviria por motivos óbvios. Queria te ligar, mas nem isso mais eu posso. Nem ter o direito de te perturbar eu tenho. Sou uma insone sentimental sentada à mesa do computador com um copo de qualquer suco que tenha na geladeira e medindo as palavras numa mensagem que não vai dizer metade do que eu quero. E que eu mal sei se vai ler. É capaz de ver meu nome no remetente e descartar. Chegar até aqui será um luxo que eu vou deixar minha imaginação se permitir. O que a gente tem, então? Não sei, mas acho que está sobrando uma coisinha que a gente chama de amor. Aliás, eu chamo de amor. Você fala que é um incômodo porque não te deixa viver melhor o que quer aí. Bom, se ainda resta um sentimento, eu vou lutar. Não por você, que parece não merecer metade do que eu sinto, mas porque eu não escolhi gostar. Gosto, admito, sinto, e por mais que a razão diga que não deveria, eu ainda te quero. Temos tempo e amor. Acredite, ainda temos tudo.

BONS AMIGOS

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Três batidas na porta, o toque já conhecido da campainha e ele entrando correndo casa adentro. Parece um furacão. Derruba um copo, escorrega na água que molhou o chão e cai, com sorte, sobre o pufe que está encostado na parede. Levanta-se, pragueja algumas coisas que não entendo e, quando peço pra se sentar, me manda à merda. Diz que está nervoso mesmo e que não quer se acalmar. Brigou com o nova namorada. Entendo. Espero uns dez minutos até que realmente possamos conversar. Depois de xingar a menina de tudo quanto é nome, me conta que descobriu algumas mentiras. Eu já menti pra você, digo. Ele ri, diz que é diferente. Eu sou sua melhor amiga, posso até mentir às vezes se não fizer mal. Mas que iria cobrar explicações. Agora, ela era a menina  dele, gostava dela. Num segundo consegue numerar diversas qualidades. Sinto ciúmes. Eu também o faço rir, faço bem. A menina não era nada  demais. Era mais um dos problemas que ele trazia pra que eu o ajudasse resolver. Me sinto mal quando ele faz isso e me coloca no devido lugar. É como se nada pudesse crescer dentro de mim. Somos amigos. Ponto. Confesso que é difícil imaginar alguma coisa entre a gente. Os amigos dizem que combinamos. Que sou tipo um anjo na vida dele. Ele, inclusive já disse isso. Sentado, mexe no celular a procura de alguma mensagem. Conversamos coisas mais amenas agora.
Num segundo em que vou no quarto pegar algo para mostrá-lo, ouço uns soluços. Começou a chorar. Pego um copo com água e açúcar, envolvo-o em meus braços e digo que tudo vai ficar bem. Não sei em que momento acontece, mas a gente se beija. Simples, bonito e um desejado beijo entre dois amigos. Preciso ir, diz. Na mesma velocidade em que entrou, se vai. Sem compreender direito o que houve, me pego olhando pro espelho e, agora, quem xinga sou eu. Não aceito o que fiz. Como pude ter avançado, ido tão longe? Eu não precisava estragar tudo. Tento refazer os poucos segundos que passamos com as bocas juntas e relembro uma mão em minha nuca, um morder nos meus lábios. Ele queria o beijo, penso comigo tentando me convencer. A consciência sente dor. Não marco o tempo. Sei que o telefone toca. Abre a porta, diz a voz dele do outro lado da linha. Por que você não toca a campainha e vem fazer um estrago na minha vida de novo?, pergunto. Porque você acabou de estragar a minha, ele responde. Pelo olho mágico eu o vejo. A fechadura anseia ser virada. Ele está em pé, me olha de cima à baixo. Como eu demorei tanto a perceber?, cada um se pergunta. E eu descubro que além de poder ser sua grande amiga, eu posso ser seu grande amor.

SEMPRE ASSIM…

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Primeiramente, você chega na balada e observa que metade das mulheres estão com um vestido de elástico, usando o insistente perfume 212, Angel ou Light Blue. Mas até aí tudo bem, pois o uniforme faz parte. Não muito distante disso, você vê …alguns homens com uma camisa polo e um cavalo gigante no peito, perfume one million. Alguns gastando dinheiro que não tem, outros gastando por gastar e outros como eu agora, pensando em como funciona tudo isso.. Nesse instante por algum motivo você se sente diferente daquelas pessoas. Culturalmente instruídos a sempre segurar um copo na mão seguimos o nosso caminho em busca de algo que no fundo não sabemos se realmente faz sentido.   Alguns caras querendo se divertir e outros numa disputa inútil para ver quem é o mais frouxo. Frouxo simplesmente por não conseguir pegar uma mulher só com o papo, por não saber jogar esse jogo de homem pra homem, mas novamente até aí tudo bem.. pois cada um usa e atira com as armas que tem.   Em meio a tudo isso, me pergunto: onde está a conquista? Cadê o charme?   O ato de arrancar um sorriso sincero? Ficar com a mulher por ter falado a coisa certa na hora certa, sem sensacionalismo. Só acho que as coisas estão perdendo um pouco da graça. Então depois de consecutivas experiências dessas, você acaba vendo que o mundo de balada é muito limitado e o mais importante, que o que você tanto procura, não está e nem estará ali.   De forma alguma estou dizendo que não gosto de balada, ou que balada é algo de pessoas “vazias”, mas infelizmente na maioria das vezes é isso que eu vejo, mulheres que só querem levantar seu ego ou serem bancadas a noite toda e homens que acham que baixar um litro de bebida lhe faz ser o “top” da festa.   Cada vez mais as pessoas têm a necessidade de mostrar ser uma coisa que não são, viverem algo que não querem para se adaptar ao mundo pobre que a noite oferece e   agora só falta elas perceberem que isso não leva a lugar nenhum, que balada alguma te fará sentir o abraço quente de alguém que te ama, o beijo que faz delirar, o companheirismo de quem realmente se importa. Enfim, hoje eu vejo que o acontece durante as várias baladas da vida, devem permanecer ali e na maioria das vezes, ser esquecido porque nunca nos levam a lugar algum, mas traz arrependimento e saudade do tempo em que éramos realmente felizes e não sabíamos.   Chegamos num ponto, onde máscaras valem mais do que expressões, garrafas de bebida valem mais do que apertos de mão e companhias falsas valem mais do que uma conversa sincera com a menina que te faz tremer e que infelizmente não está ali, diante dos seus olhos como tantas outras sem valor algum.   Por fim entenda que você pode ser uma pessoa super charmosa, educada, inteligente ou qualquer outro adjetivo, mas se a outra pessoa não for equivalente, ela não irá perceber o quão valiosa você é, e pode acreditar, nesse ambiente você não tem nenhum valor.

EM FRENTE…

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No tenha medo de voltar. Não tenha medo de errar. Não tenha medo de tentar ser o que você sempre quis ser e sonhou. A gente passa a vida inteira para descobrir quem realmente é, ou quem realmente poderíamos ter sido. O mundo é cruel e nem sempre vai te ajudar, te dar apoio, mas sempre vai existir uma mão pra segurar. Ou, ao menos, vai existir um lugar para onde você possa regressar.

A vida não é conquistada por aqueles que não desistem, mas por aqueles que aprenderam que alguns caminhos podem ser sem saída e dão passos para trás a fim de dar outros para frente. Talvez isso nem ao menos possa ser chamado de desistência. Acreditar que outra trilha pode ser melhor é saber por onde os sonhos conseguem fluir. E algumas coisas a gente não abre mão, elas se perdem por conta própria.

Só quem conquista é lembrado. Quem morre tentando, quem fecha os olhos e não quer mais aquilo, quem chegou perto, nenhum desses é lembrado. Infelizmente, nem todo mundo consegue ter o que deseja, mas algumas vezes acabamos tendo um pouco para viver. Não é se conformar, é aceitar que pode se continuar tentando, mas feliz com o que já se tem.

Pessoas acordam todos os dias pensando em fazer diferente, em chegar em algum lugar diferente. E o pensando precisa ser esse mesmo, mas não tenha medo. Se apóie em alguma coisa, vá o mais longe que puder, nunca esqueça o que lhe foi ensinado por seus pais, mestres, professores. Por mais longe que esteja, por mais brilhante que seja o céu, ou por mais escuro que o momento pareça, o que você carrega dentro de você, sua motivação e disposição, sempre farão diferença.

Independente de onde esteja, independente de quantos acertos te separam do objetivo ou quantos erros ainda serão cometidos, independente de quantas milhões de milhas um sonho pareça estar, independente de ser cedo ou tarde. Você sempre vai poder parar um pouco e avaliar a jornada. Se você fizer o que é certo pra você, vai adorar estar aonde está.

AMOR VIRTUAL

CORAÇÃO (6)

Tudo parecia brincadeira. Ele era primo de uma amiga que sempre dizia que deveríamos nos conhecer. O encontro ainda não aconteceu, mas me pergunto o que vai acabar rolando quando estivermos frente a frente. Depois de mais dois anos conversando, trocando e-mails, mensagens e virando confidentes um do outro, passamos a ter um carinho que, diz ele e juro eu, não temos por muitas pessoas que vemos frequentemente em nossas rotinas. Pessoas, essas sim, que podem nos tocar, nos abraçar e fazer mais do que simplesmente escrever todos os dias. Nunca levei fé nessa coisa de manter laços virtuais. Sim, eu tenho amigos que foram para fora do Brasil, que estão em outros estados e, por que não citar?, parentes que só falo por telefone ou internet, mas que eu sei que estão lá. Só que é diferente. Você nunca ter visto a pessoa na sua frente e chega a duvidar que ela exista (mesmo ele conversando por uma webcam), é surreal. Não acreditamos porque não conseguimos encarar o fato de que, mesmo a uma inacreditável distância, alguém pode nos fazer tão bem. E ele me fazia bem.

Chegamos ao ponto em que não fazia mais sentido não receber uma mensagem de bom dia, perguntar como foi o dia e desejar “boa sorte” antes dos grandes acontecimentos que cada um ia tendo pela vida. Era inevitável alguns períodos sem nos falarmos, mas três dias já era um intervalo estranho demais para nós. Tenho certeza de que, no início, omitíamos certas informações. Eu não precisava contar se saído com alguém e nem ele me dizer se alguma menina nova tinha pintado. Só que aí, sempre acontece alguma coisa para mexer conosco.
Num belo dia ele vira pra mim e diz “Tô quase namorando”. Nossa, que legal, eu comentei. Ele me contou sobre como tinha conhecido a menina, como eles eram parecidos, de como ela fazia ele dar risada, de como ele escrevia umas coisas pra ela, como foi o primeiro beijo. Pára. Não precisa contar mais nada, eu disse. Fui abatida por uma crise de ciúmes que parecia entrar pelo fio da internet e deixar uma mensagem bem grande, parecendo um anti-vírus que te avisa: ela está MORRENDO de ciúmes!
Foi complicado. Passamos um tempo sem se falar e eu pensando que também o fazia rir, também éramos parecidos e que também tínhamos nos conhecido de uma maneira bem diferente. Tá, eu nunca tinha me declarado. Mas aquilo que subiu em mim quando senti que poderia perdê-lo, não era normal. Pensei, quer saber?, vou me declarar. Escrevi um e-mail gigante contando tudo e até do meu ciúme. Na hora de mandar, amarelei. E me arrependi.
Exatamente dois dias depois, a prima dele me liga e a gente começa a conversar. Como que eu pensaria em qualquer outra coisa? Antes de ser prima, ela era minha amiga, certo? Falamos da vida, de música, cinema e até de futebol. Aí, ela vira e pergunta: tem falado com o meu primo? Emudeci. Disse que sim e perguntei inocente “por quê?”.

– Ah, por nada. É que ele tá vindo me visitar no feriadão.

Oi? Sério? Como? Por quê? Quando? Não, quando eu sabia. Meu coração disparou. Será que ele traria a namorada? Será que a gente se conheceria? E como seria? Por que eu não tinha mandado a porra do e-mail? Ele percebeu meu nervosismo e riu. Contou que sabia o que vinha rolando e que a primo já tinha vontade de vir me conhecer. E aproveitava pra ver a família.

– Faz assim – disse a prima – finge que eu não te contei, apesar dele ter pedido pra eu te contar. Vai conversar com ele. Eu sou amiga dele também e sei que vocês vinham se enrolando cada dia mais. E pode deixar que tudo que você escondeu dele e eu sei, eu não contei. Quem vê vocês dois falando um do outro sabe que tem mais coisa aí.

Fiz o que ela falou. Mandei uma mensagem, duas, nos falamos e ele disse que vinha ao Rio visitar a família sim. Perguntou se a gente podia se ver, eu disse que sim. E cá estou eu. Dentro do carro, em frente ao prédio da minha amiga/prima dele, e estou suando. Mas… E se não der certo? E não for nada daquilo que a gente imaginou? E se toda aquela afinidade foi coisa de internet? E se…?

Ele desce. Abre a porta do carro.

Nossa, o sorriso dele consegue ser mais lindo ainda do que pela tela do computador.

Onde eu coloco as minhas mãos?

– Oi.
– Oi.
– E agora?
– Agora é sem volta. Que bom.
– O que é bom?
– Você é de verdade.
– Isso tudo é verdade.

E eu sempre achei que fosse brincadeira.

CIÚMES

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Ninguém gosta de admitir que sente ciúmes, mas, ao mesmo tempo, todo mundo sente. Se você não sente, pode parar de ler esse texto. Ele não foi feito pra você. Entretanto, se você, assim como eu, sente esse sentimento maldito e abençoado, junte-se aos bons. E aos maus, que usam qualquer desculpa para justificar seus atos ciumentos. Eu defendo o direito de sentir ciúmes. Aquela coisa saudável de alfinetar o parceiro sobre qualquer coisa suspeita que ele diga, ainda que seja tudo fruto da nossa imaginação. Só que de uma forma leve, que demonstre o quanto você gosta e que, no fundo, represente o quanto a pessoa é importante na nossa vida. Imagina se você não teria medo de perder alguém seja lá pro que for. Ter esses ataques bobos é mais um jeito de dizer “hey, você é especial pra mim!”. Pode surgir por “n” motivos, ou por nenhum mesmo. O trabalho que afasta as pessoas, uma atividade que gera um certo conflito, ou até uma simples noite em que um dos dois resolve sair com os amigos. Isso sem a gente falar nos ex-namorados que rondam as nossas vidas como fantasmas e pseudo-amigos sem moral nenhuma que dão em cima de quem está com a gente (ainda que algo que ocorra somente na nossa cabeça). Veja bem, não quero que ninguém saia por aí dizendo que é válido ter ciúmes e por isso vão começar discussões sem pé nem cabeça. Ciúme é bonitinho quando para e não cresce e não vira algo pior. Nada justifica uma agressão, ainda que apenas verbal, a alguém. Mostrar que se importa, ter uma rusguinha aqui ou alfinetada ali é, sim, compreensível, mas deixem as histórias horrorosas de atrocidades cometidas em nome do “ciúme” para as páginas policiais. Isso deixa de ser amor, deixa de ser qualquer traço de afeto. Isso é doença. Se acabar rolando uma briga, tudo bem. Faz um esforço para pedir desculpas e ficar numa boa. Aproveita pra ter aquele sexo gostoso de reconciliação e segue a vida. Manere-se. Você terá sempre o direito de sentir as coisas, mas suas liberdades terminam quando começam as do parceiro. Apimente a relação com ciuminho, mesmo bobo. É legal saber que alguém tem ciúme da gente. Só não exagere no tempero. Tem gente, como eu, que não suporta comida muito condimentada. 64742_560229573997902_1757313555_n

SEXO FRAGIL???

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Foi-se o tempo em que nós, mulheres, éramos escolhidas, mas nunca podíamos escolher. Hoje já é mais que natural: se uma mulher tiver vontade, ela pode – ou melhor, deve – chegar em um cara. Afinal, é uma delícia tomar a iniciativa. Mais que um deleite, é uma conquista. Mais ação, menos força do pensamento. Menos mandinga, simpatia ou qualquer coisa que traga o ser amado em menos de sete dias. Temos e podemos usar nossas lindas pernas com meia-calça fio 20 e salto 15 para caminhar e ir atrás do que queremos. Porque, antigamente, com as regras morais que nos haviam sido impostas, dependíamos totalmente das forças da natureza para que algo acontecesse.

Isso me lembra os bailinhos da quinta série, sabe? As meninas levavam um prato de doce ou salgado, e os meninos uma garrafa de coca-cola de 2 litros. Aí as garotas ficavam sentadas no salão, uma do lado da outra, enquanto rolava alguma música pop romantiquinha grudenta dos anos 90 – provavelmente “More Than Words” ou ‘Iris” – e esperavam que os meninos, timidamente, caminhassem em sua direção e puxassem-nas pela mão para dançar o dois-pra-lá-dois-pra-cá com aquele combo desajeitado de mãos no ombrinho/mãos na cintura. Ou seja, eram eles que tinham o poder de escolha. A nós restava apenas ficar parada como uma estátua em exposição, usando a força do pensamento, mentalizando o nome do garoto paquerado e torcendo para que ele nos escolhesse – o que raramente acontecia.

Agora a coisa mudou: podemos continuar sendo conquistadas, mas também somos capazes de conquistar. E isso é uma evolução tanto para as mulheres quanto para os homens. Afinal, eles devem se sentir aliviados por não carregar mais o peso nas costas de sempre caber a eles ter que tomar a iniciativa. Não que busquemos como ideal a inversão total dos papéis – longe disso. O que almejamos é a construção de novos papéis, nos quais homens e mulheres possam exercer seus desejos de forma livre e igualitária. E que a mulher não seja subjulgada por romper com o papel que lhe foi imposto e que não lhe cabe mais. Mas será que conseguimos mesmo exercer esses nossos desejos? O grande problema é que, sempre que você chega em alguém, a possibilidade de tomar um fora é iminente. E nem todas as mulheres sabem lidar com essa variável.

Já escutei de várias amigas a clássica indignação após um toco tomado: “Acredita que ele me dispensou?”, proferida com um tom incrédulo típico de quem se esquece da pequena variável citada acima. Peraí: assim como quando um cara chega em você e você tem o direito de dar ou não abertura e querer algo mais, o inverso também é válido. Não é porque temos a iniciativa que estamos imunes de quebrar a cara. E com isso, cai abaixo a teoria de que “chegar em homem é fácil, porque, se você for minimamente bonitinha, você não leva fora”. Então quer dizer que o homem deve aceitar qualquer par de peitos que bater à porta? E os sentimentos e compromissos que, assim como qualquer ser humano, eles também têm?

O que muitas mulheres não entendem é que é preciso maturidade para lidar com a rejeição. Talvez, um agravante histórico que influencie nessa falta de preparo feminina ao encarar o monstro da rejeição seja todos os anos em que a mulher interpretava o papel de donzela indefesa presa no castelo esperando pelo príncipe que iria resgatá-la. No posto de “ser conquistada”, era a mulher que rejeitava, ela que decretava o “não” quando achava oportuno. Além disso, a recusa dela também era parte do jogo de conquista, era parte do “charme” bancar a difícil. Agora, além de desfrutar o bônus, elas têm que aprender a lidar com o ônus do feminismo. Não basta criar coragem o suficiente para chegar em um cara, é preciso também maturidade emocional, plenitude espiritual e autoestima elevada para segurar o possível “não”. Tudo resume-se um uma palavra: segurança. A mulher tem que estar segura de si e saber que escutar um “não” não significa o fim do mundo.

Te broxei de qualquer tentativa de tomar a iniciativa? Não fica assim, não. O monstro da rejeição nem é tão feio quanto o pintam. Aliás, a beleza de todo o início da (fase da sedução) está exatamente na incerteza das mãos geladas e trêmulas de um coração ansioso. Fala verdade, o que seria do friozinho na barriga, na hora da conquista, se você já soubesse que a resposta final seria um “sim”?

UM BEIJO…

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A gente não devia ter dado o primeiro beijo. Aquele beijo bom, com gosto de quero mais e molhado de clichês que depois invadiriam nossas rotinas, deveria ter sido evitado. Como nos beijamos, passamos para a expectativa do próximo encontro. Que deveria ter sido evitado também. Aquele encontro bom, gostoso, tranquilo, tudo porque você me tratava bem e me queria por perto. Nunca poderia ter ocorrido. Passamos de fase.
A primeira vez que dormimos juntos, de conchinha, abraçados, essa noite não tinha que ter existido. Ali, duas almas se tocando e se entendendo pelo toque os dedos dos pés se davam. Essa noite, se abdicada, não teria nos levado à primeira transa. Aquela cheia de vontade em que despejávamos muito de nós e de toda intimidade que tínhamos adquirido um com o outro. Não podíamos ter feito aquilo. Pulamos de fase.
O encontro com os seus pais, que eu tanto temia, deveria ser riscado da história. Não que eu tivesse medo que ficasse sério, ou mesmo que tivesse, mas tiraria de nós a expectativa por esse mesmo lance de seriedade. Não deu. Logo depois veio mais um encontro, com mais uma noite, mais beijos e mais transa. E mais a gente se afundava dentro de nós. Suponho que tudo isso não deveria ter acontecido. Mas aconteceu.
Não podíamos ter sentido saudade, não deveríamos ter nos achados completos um com o outro, não era justo criar sempre mais e mais expectativas. Teríamos evitado os meus erros, as suas mágoas, nossas angústias e todo o choro que veio depois. Aquele último encontro, antes da gota d’água, era ali que o destino deveria ter mudado. Mas, com mais um deslize aqui, se perdeu esse caminho.
Tudo não deveria ter acontecido porque eu queria evitar ao máximo chegar onde estou hoje. Não devo, não posso, não quero que aconteça, que ocorra, queria poder fazer diferente. Mas não dá. Eu aqui, do lado de toda a saudade que não deveria carregar, te amo com toda a força que meu coração consegue suportar.