O TEMPO COMO REMÉDIO…

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Aí o cara diz que desiste. Que tentou mostrar que ama, que não sabe como fazer pra outra pessoa confiar, que quer que ela seja feliz e começa a bancar a vítima dizendo que não soube mesmo amá-la, que ela merece outra pessoa. Nossa. Pára. Às vezes, simplesmente, não deu certo. Dói, é chato, a gente fica na fossa, mas como já disseram milhões de vezes, passa. Aí o cara manda indireta. Chega ao cúmul…o de virar uma criança em corpo de adulto e começa com todas as infantilidades que existem. Evita o contato, vira a cara se encontra na rua, fala mal dela pros amigos. A ferida sempre aberta e o choro sempre solto. Acontece. As pessoas reagem de formas diferentes aos encontrões da vida. Tem gente que chora baixinho, pra si, e tudo bem. Tem quem faça isso aí. E não se assustem se eu trocasse todos os “cara” por “ela”. Mulher também reage assim. Até pior. Só não concordo com quem pensa em fazer mal. Coisa estúpida. A outra pessoa querendo seguir e vem uma pessoa idiota e pensa “se não for comigo, não vai ser com ninguém”. Hã? Tem sentido isso? NÃO! Mil vezes não. Persista no amor, mas se pra um dos dois acabou, não vai ser fazendo mal a ela que o sentimento pode voltar. Muito pelo contrário. O que poderia ser um carinho pelas coisas boas que tiveram vira raiva. Desiste, amigo. Tira o time de campo e se prepara porque outra pessoa pode até já ter entrado na sua vida e você não viu. Agora, segue. E deixa o outro seguir. Se houve um amor ali, mesmo que agora seja nada, guarde o que passou. Junto com qualquer ato de agressividade você destrói, não apenas a história que teve com alguém, mas a vida de muitas pessoas que cercam quem você diz que ama tanto.

QUEBRA – CABEÇA

como-monta_1350960028807Comecei um quebra-cabeça, quer dizer, começaram por mim. Já o peguei com algumas peças no lugar, outras me deram e algumas eu achei perdidas por aí. Fui tentando, certas não encaixavam e várias estavam só fora de posição. É preciso ter criatividade em alguns momentos para poder colocar todas juntas.

Esse que faço não tem caixa com uma figura nem manual de melhor disposição.

É tudo na base da tentativa e erro. Erros normais, erros sutis, erros grosseiros. Todos estão lá. Peças que colocamos de qualquer jeito, acabamos estragando, tem aquelas que a gente nem vê, ficam embaixo de outras escondidas. Ah, tem aquelas que parecem que cabem, mas não servem pra nada.

Assim, vou aprendendo que, no quebra-cabeça da vida, o lugar das peças não é o mesmo pra sempre e que certos encaixes ficam gastos sem aceitar mais nenhuma peça no lugar. Pai, mãe e melhores amigos não podem ser substituídos. Um grande amor também não. Outras peças ficam frouxas, não ficam boas, é estranho.

Sei que, um dia, não haverá mais nada a ser acrescentado ao meu puzzle. Quando essa hora chegar, quero poder olhar pra tudo que construí e sorrir satisfeita com todos os encaixes que reuni. Satisfeita com a vida.

TRANQUILAMENTE

Vai ser difícil. Aliás, muito. Se fosse por motivos pra desistir, nem precisaria pensar. Vamos cada um pro seu lado. Se for pra pensar nos motivos que ainda nos unem, nada será capaz de nos convencer do contrário. Somos estranhamente ligados por um destino que parece nos separar a cada besteirinha. Só por não sabermos aproveitar a oportunidade que ele nos deu de ficar juntos. A verdade é que o amor coloca uma pressão enorme em nossos ombros. Não somos mais apaixonados. Não somos mais no sentido de que passamos daquela fase boba em que se ri de tudo e há descobertas. Aquela paixão passageira. Aquela coisa de ter interesse até conseguir algo e depois perder a graça. A gente ainda descobre que temos um tanque enorme de amor pra queimar, mas, repara, eu já até sei que ficar longe de você é uma grande merda. Com o passar do tempo, vamos tendo chance de mostrar, para tudo e para todos, que nos gostamos de verdade. Duvido que esses outros casais nunca tenham brigado. Duvido que nunca tenham ido dormir de cabeça quente, que nunca tenham olhado pra outras pessoas. Isso tudo passa, e a gente se dá conta de que quem vale a pena mesmo é quem está do nosso lado. Espero saber o que fazer da minha vida. Espero que você também saiba o que fazer da sua. Entretanto, espero que saibamos o que fazer da nossa. A interseção onde nossos caminhos se encontram, que ocupa cada vez mais espaço em mim, me preocupa. Tomara que você não se importe quando eu te pressiono para falar de nós. Sei que eu também fujo de falar disso. Vamos combinar, DR é um saco. Eu desligo, você liga. Eu fecho a porta, você chuta. Eu vou atrás de você, você se esconde. Eu faço surpresa, você não gosta. Você me pede um beijo, eu viro o rosto. Você me conta um plano, eu rio. Eu conto um sonho, você ri. No meio dos nossos erros e defeitos, a gente se ama. Somos comuns. Mais um casal no meio da multidão. Então, vamos com calma. Devagar. Eu não tenho pressa mais pra nada. Já achei você, já tenho você, e agora o plano é te manter na minha vida. Talvez a gente aprenda junto, talvez não aprenda nada. Talvez a gente siga o mesmo caminho, talvez os caminhos se separem. Aí, talvez você volte, talvez eu te procure e não dê certo. Talvez eu seja tudo que você sonhou, talvez você acorde e descubra que não. Talvez você chore no meu ombro, talvez me cubra de insultos por um erro. Talvez nada disso, só um amor tranquilo. Talvez, quer dizer, com certeza a gente não sabe. Só sabemos que somos comuns. E que devemos levar nosso amor com calma.

UM COMEÇO…

Você vai ser arrepender de ter me dado o primeiro beijo. Mas vai tolerar o segundo, gostar do terceiro e se entregar daí em diante. Você vai desejar não ter me conhecido. Depois vai se acostumar com a minha presença e, no final, vai se perguntar como viveu sem mim até aquele dia. Você vai sonhar comigo uma vez e achar que é pesadelo. Vai sonhar a segunda e achar que é perseguição. Vai sonhar a terceira e desejar continuar sonhando ou, então, acordar e dar de cara comigo. Você vai imaginar que eu não deveria estar no seu presente, não vai me querer no seu futuro, mas vai se perguntar como contar o passado sem falar de mim. Você vai esconder um monte de coisa de mim, vai contar algumas coisas, mas depois vai se abrir. Mas terá os segredos normais de qualquer pessoa. Você vai querer me matar. Vai querer me bater. Vai querer me surrar. Vai querer me abraçar. Vai querer me amar. Você vai querer aprender a me deixar ir, mas saberá que não tem como não ficar contigo. Você vai saber, perceber, notar e aprender um monte de coisa. Só um detalhe você não aprenderá: a me amar. Isso você sentiu desde a primeira vez. Tudo bem que no começo era misturado com uma certa raiva. Mas ele sempre esteve lá. – E quem briga contra o amor?

ESTAR APAIXONADA

Quem já viveu uma paixão sabe. Conhece bem os sinais, os sintomas do estar apaixonada. Não existe normalidade no tempo de quem se apaixona. Tudo é inquieto demais, é extrapolação o tempo todo: do sentir, do pensar, do querer. Os pensamentos parecem um turbilhão, passam a colar nos sentidos. A gente nem percebe onde se situa o pensamento ou o sentimento. É um amálgama sensorial a eletrocutar a pele, a nos deixar eletrizados dia e noite. Quem já se apaixonou conhece a diferença entre “estar amando” e
“estar apaixonada”. A paixão desequilibra, nos tira o chão, nos exacerba todos os sentidos ou até os multiplica. Às vezes as sensações são tão intensas, às vezes tão arrasadoras que já não se sabe se é o tato, o olfato, a audição, o paladar ou a visão que está sendo estimulada. É um mix. É um caldeirão de todas as bruxas do universo, cuja poção é preparada para alucinar, para seduzir irremediavelmente. Quem já se submeteu ao sortilégio de uma paixão conhece os caminhos do paraíso e do inferno também. Já percorreu as ruas enfeitadas de flores tal qual as
ruelas das cidadezinhas do interior em época de Semana Santa. E já teve a nítida sensação de levitar, de estar no céu em companhia divina. Mas também
experimentou a queimação das entranhas, o fogo da consumição do auto-flagelo. Pois a paixão inclui êxtase e sofrimento, leveza e o ranger de dentes. Quem já esteve apaixonado sabe da insegurança, conhece bem o ciúme, as noites mal dormidas, mas sabe também da contemplação, do brilho inigualável dos olhos e do gozo sem limites. Ah, são tantos e indefiníveis os sintomas da paixão! Mas o que mais me vem à
mente ao tentar explicitar o que sinto em relação a esse sentimento é que paixão é um amor sem juízo, um amor restrito aos sentidos, imaturo, inconsequente, mas não menos importante. É como se fosse um diploma para se chegar ao amor pleno. Muita gente pode até viver feliz sem nunca ter se apaixonado, mas quem viveu uma ou mais paixões estará mais suscetível a amar por toda uma vida, sem medo de ser feliz, pois passou pelas provações e pelo encantamento de uma entrega apaixonada.

SOU BRUXA!

Sou uma bruxa porque: Sempre que abro os olhos, ao despertar, me emociono por mais um dia para viver, livre e comprometida com as coisas e as causas da Grande Mãe. Neste momento, procuro refletir a respeito dos tantos dias que nos foram tirados, por inveja, injúria e cobiça, e peço luzes e força a Deusa Mãe para o dia de hoje. Sou uma bruxa porque, ao abrir as janelas e respirar o ar da manhã, agradeço à Deusa pelo dom da vida e celebro o Pai ar pela sua presença em mim.

Sou uma bruxa porque, ao me alimentar, celebro aquele bendito alimento e bendigo todos aqueles que contribuíram com seu trabalho para que o mesmo chegasse à minha mesa. Sou uma bruxa porque, sempre de alguma forma renasce o amor em mim, e minha alma agradecida transmite luz. Sou uma bruxa porque sempre me envolvo e me comprometo a serviço da justiça e da paz no mundo. Sou uma bruxa porque estou sempre insistindo em abrir as portas do meu coração, para transmitir os ensinamentos dos antigos e facilitar o despertar da grande arte nos corações dos que me cercam. Sou uma bruxa porque estou sempre acendendo um fósforo sem maldizer a escuridão. Sou uma bruxa porque busco a verdade sem jamais me conformar com a mentira e o subterfúgio. Sou uma bruxa porque sempre renuncio ao egoísmo e procuro ser generosa. Sou uma bruxa quando sorrio para alguém, mesmo estando muito cansada, pois conheço o valor do sorriso. Sou uma bruxa quando preparo um chá que vai curar, ou pelo menos amenizar a enxaqueca daquela vizinha chata. Sou uma bruxa quando tomo um animal em meu colo para lhe amenizar a dor. Quando planto e colho uma erva e agradeço a Gaia por tamanha dádiva. Sou uma bruxa quando persigo a luz de uma estrela com o olhar e o coração nas trevas que nos circundam. Quando levo a fé nos Deuses por entre linhas, apenas com minhas ações. Sou uma bruxa quando, em rijo, sinto o rio do sangue da vida que escoa nas minhas entranhas. Quando sou fogo que estimula o coito, e água que transforma e modifica cursos. Sou uma bruxa porque me aconchego no seio sagrado da terra, voltando ao colo sagrado. Quando abro o círculo invocando os ventos do norte, buscando no canal dos antigos o néctar do renascer. Sou uma bruxa porque quando falo em liberdade me sinto águia. Quando falo de sabedoria me sinto coruja, e quando falo do belo me sinto arara. Sou uma bruxa porque estou sempre atenta ao perfume, que não posso derramar no próximo sem que também me atinja, e a lei tríplice se faz em mim. Sou uma bruxa quando vivencio o sabor do pão partilhado. Quando procuro pedir perdão e recomeçar. Sou uma bruxa quando me recolho ao silêncio perante um julgamento preconceituoso ou injusto a meu respeito, e entrego ao tempo, o único pólo óptico da verdade imutável. Sou bruxa quando desenvolvo em meu ser a humildade de viver e morrer como o grão de trigo, para depois frutificar searas de luz, de tenacidade e de esplendor. Sou uma bruxa porque estou sempre ressurgindo das cinzas como Fênix. E assim, retomo a minha vivência concreta, cujo itinerário principal é a minha Deusa interior, forte, guerreira, translúcida, serena e amorosa a despertar em mim. Por tudo isso sou uma bruxa! –  “O universo é meu caminho; o amor, a minha lei; a paz, o meu abrigo. A experiência, a minha escola; a dificuldade, o meu estímulo; o obstáculo, a minha lição; a Sabedoria, meu objetivo; a compreensão, minha benção; o equilíbrio, minha atitude; a perfeição, minha meta; a plenitude, meu destino.”

MEUS MEDOS


“Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de se conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo. Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente. Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem Deus agüentam uma reza por mais de duas horas. Medo de ser engolida como se fosse líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve. Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida. Medo de enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança, medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar. Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer. Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado. Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue. Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo. O corpo mais lado da fraqueza. Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se coincidir novamente. Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam. Medo de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele com mais ninguém, nem com seu passado. Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele. Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior do que as suas dúvidas. Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar, mas deliciosamente rude para chamar, que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar sua voz. Medo de ser sugada como se fosse pólen, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz. Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas. Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para prender sua atenção. Medo da independência dele, de sua algazarra, de sua facilidade em fazer amigas. Medo de que ele não precise de você. Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira. Medo do cheiro dos travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem recuar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo. Medo de não ser convincente na cama, persuasiva no silêncio, carente no fôlego. Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de não soltar as pernas das pernas dele. Medo de soltar as pernas das pernas dele. Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. Medo da vergonha que vem junto da sinceridade. Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida. Medo de estragar a felicidade por não merecê-la. Medo de não mastigar a felicidade por respeito. Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la. Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar. Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou. Medo de faltar as aulas e mentir como foram. Medo do aniversário sem ele por perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar. Medo de enlouquecer sozinha. Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha. Você tem medo de já estar apaixonada.”

O AMOR É CEGO

Passou por mim um cara bem feio e sua namorada extremamente feia. Eles se beijaram de um jeito asquerosamente feio. Eu tinha sete anos e fiz uma cara feia, de tão distorcida. Não gostava de ver línguas escapando da boca dos casais. A minha mãe me lembrava “o amor é cego” e todas as dúvidas para entender certas duplas se esclareciam. Quando cresci, me dei conta de que estava sendo muito superficial ao julgar pessoas pela carcaça. Também amamos cegamente gente chata, mentirosa, grosseira, prepotente, egocêntrica. Além de cego, nomeei o amor de burro, surdo, tolerante, paciente e, principalmente, ingênuo. Na única vez que tomei um fora sem desconfiar, a frase “o amor é cego” voltou a minha cabeça, me proibindo o sono. Era o fantasma da minha mãe, aprofundando o sentido da frase: você gostou dele de vendas. Você não leu os sinais. Você estava cega e não percebeu que ele não te queria. Como assim não me queria? Até hoje tento reviver os dias com ele, pra ver se pesco algum farelo de insatisfação ou desamor que tenha me sugerido. Só constato a minha cegueira mesmo.

Quando você se apaixona, os defeitos da pessoa evaporam. Você releva quando ele se exalta com um garçom, porque ele te traz café-da-manhã na cama. Ignora uma resposta atravessada, porque ele acordou no meio da noite pra te levar ao hospital. Não se importa quando ele se esquece do aniversário da própria mãe, porque ele diz pra todo mundo que você é a mulher da vida dele. Mais do que relevar as coisas ruins, o amor não as percebe. Não enxerga mesmo. E, se enxerga, não faz disso um motivo digno de uma DR ou de um comentário. Deveria.

O desinteresse dele se esconde na sua alegria por estar ao lado de alguém tão apaixonante. Os sinais estão fedendo embaixo do seu nariz, mas você está gripada. De repente é manhã, ele acorda ao seu lado e te surpreende, trocando o bom dia pelo ponto final.

Agora me lembro, o meu ex acordou falando de uma mancha no meu rosto, que ele começava a reparar. Uma mancha que eu tenho há anos. Eu ganhava defeitos de alguém que não os enxergava. Meu ex abria os olhos. Será que foi esse o sinal?

Infelizmente, não existe cirurgia pra quem sofre de cegueira a dois. Como vamos remediar algo que nem notamos?

As consequências da ingenuidade do amor machucam, mas não aconselho ninguém a evitá-lo. A frase “que seja infinito enquanto dure” de Vinícius de Moraes só faz sentido nesse momento. A sensação de que a vida pode sufocada de felicidade, presentinhos e mensagens em dias e horários insignificantes, tudo que faça os olhos sorrirem; isso paga as dúvidas que ficam quando o relacionamento escapa.

O lado bom é que, com o tempo, vamos aprendendo a espremer o coração, em vez de cegá-lo, como criança fingindo pros pais que não está vendo a cena de sexo na TV. E se a pessoa terminou com você sem sinalizar, ou pelo menos sem que seu amor percebesse, relaxe. Ele apenas se deu conta antes, que vocês não serviam um pro outro. Agradeça. Não agora, quando tudo ainda arde, “posto que é chama”. Um dia, é claro, quando esse amor evoluir de cego a invisível.

UM BRINDE

Nunca achei que fosse amar tanto alguns detalhes que, se pertencessem a qualquer outra pessoa, eu nem repararia. A verdade é que, com você, não existe detalhe que não importa. Então, te digo que quero, porque também sou bem direta:

Quero mais manhãs ao seu lado e te vendo fingir acreditar nas minhas promessas de “só mais cinco minutos”. Sei que eles sempre se transformam em meia hora de atraso, mas eu amo te ver atrasado.

Quero muito mais manhãs e muito mais noites com você enquanto agradeço ao universo por ter ganho esse presente na vida.

Quero mais chances de tomar café do seu lado – mesmo que você queira só café puro mas, aceite como quem aceita um presente, as torradas daquele jeito que você gosta: bem moreninhas por fora.

Quero mais dos meus sorrisos quando você faz cafuné na minha cabeça enquanto dirijo.

Quero que você ouça muito mais das minhas ideias malucas e te surpreender concordando e, momentos depois, fazendo parte delas.

Quero muito mais garrafas de vinho abertas e muito mais conversas daquelas que surgem depois da terceira taça.

Quero mais da sua esperança que nunca morre de que conseguirei ver o filme de terror com você até o final. Eu sempre fecho os olhos. E você nunca desiste de me convidar para mais uma sessão.

Quero sonhar muito mais com a nossa casa. – mesmo que não saibamos se estaremos juntos até consegui-la. Isso é só um detalhe. Quero compartilhar com você planos de filhos e muitos cachorros – e perceber que você me ama inclusive por isso. Quero planejar muitos outros detalhes com você – a horta, o jardim, a estratégia pros bichos viverem soltos porém seguros. Quero te ouvir falando dos seus planos tecnológicos pra casa enquanto reparo no brilho que surge nos seus olhos.

Quero mais da sua companhia na hora de inventar pratos e fazê-los acontecer. Quero mais da nossa vibração sempre que acertamos uma receita. Quero, inclusive, até mesmo mais das receitas que não dão certo mas que no final, sempre valem a pena pela experiência com você.

Quero te presentear com mais sensações e dispensar todas as palavras – quero ler mais os seus sinais.

Quero, acima de tudo, mais dessa leveza que eu só senti com você – que consigamos carregá-la e provar para nós mesmos que ela não é tão insustentável assim como as pessoas dizem. Quero que sigamos aprendendo diariamente que nada é eterno e que a felicidade está no trajeto, não só no destino. E que não importa o que acontecer nessa estrada louca da vida, que possamos trazer dentro da gente a certeza de termos vivido um amor sincero e de termos tido a dádiva de descobrir qual a sensação de entregar seu coração na mão de outra pessoa – com a certeza de que ele está sendo bem cuidado como nunca. E que, não importa o que aconteça, que você nunca deixe de lembrar de mim quando tomar uma simples Coca-cola. E que você jamais esqueça de como conseguimos provar pra gente mesmo que parcerias são infinitamente melhores que namoros. E, por fim, que a felicidade seja sempre a sua melhor parceira, mesmo que eu não possa estar junto pra aplaudir essa união.

LOOPING DO AMOR

O poder de ter algo que sempre se buscou nas mãos causa uma estranha reação nos seres humanos. Algo curioso, que desafia o raciocínio lógico. Como se o guepardo usasse todas as células do seu corpo para alcançar o cervo e, assim que o tivesse dominado, largasse a caça, a esmo, para ser devorada por outros predadores. Esse fenômeno curioso acomete os humanos na vida e, principalmente, nos relacionamentos.

Assim que detectamos a presa, ela parece se transformar na coisa mais importante de nossas vidas. O coração dispara, a boca seca, as mãos suam, a voz trava na garganta. Alguns descrevem, inclusive, a sensação de ter o estômago povoado por borboletas. A euforia do início de uma paixão provoca reviravoltas no corpo e na mente. Tamanha determinação em direção a um alvo, na maioria das vezes, termina em sucesso. E então, quanto temos aquele que um dia parecia apenas um sonho distante, sentado do nosso lado no sofá comendo pipoca numa sexta a noite, a calma volta a reinar dentro de nossos seres. O coração retoma seu compasso. A mente volta a funcionar depois de um período em pane. Não é por acaso – estudos mostram mesmo que se os sintomas da paixão durassem por muito tempo, nosso corpo entraria em colapso.

Mas paixão é como droga – dá sempre vontade de mais uma dose, de mais um trago. De repente olhamos para aquele ser que amamos, com quem dormimos agarrados, com quem dividimos o último pedaço do bolo preferido, e vemos que ali há tudo, menos a sensação de euforia do começo. Como a roupa nova que, no início parecia nos deixar mais bonita mas que, depois de um tempo de uso, perde o poder de despertar o que há de melhor na gente e vira mais uma peça como as outras no armário, sem brilho.

E nessas, seguimos trocando o quentinho do amor pela adrenalina da paixão. De repente todo o amor daquele que se importou o bastante pra ficar parece não ser o bastante pra matar nossa fome. Ingratos que somos, agimos como filho mimado que abre a geladeira cheia de coisas e resmunga que não tem nada de bom pra comer. Trocamos parceria pelo frio na barriga. Menosprezamos quem nos cuida.

 

Sim, temos todo o direito (e na verdade, a obrigação) de perseguirmos aquilo que nos faz feliz. Temos apenas que ter cuidado para não cairmos na armadilha da mente e do ego. Ao menosprezarmos aquele que amamos e que nos ama em troca da euforia do início, estamos, relacionamento após relacionamento, desperdiçando a chance de viver relações profundas e significativas. E então, é possível constatar que não amamos o outro – amamos em primeiro lugar o nosso ego. Não conseguimos resistir à tentação do jogo da conquista, do flerte, do nosso poder de dominarmos as pessoas. Enganados pelas peripécias da mente, dispensamos nossos amores por acharmos que o que tem lá fora é sempre mais interessante.

O irônico é que o jogo de conquistas, assim como o amor quentinho, também cansa uma hora. E então começamos a lembrar de como era bom ter um cúmplice do lado. De como aquela conchinha era acolhedora. De como o sexo com intimidade era gostoso. De como as conversas eram enriquecedoras. De como o café da manhã compartilhado tinha mais sabor. De como era bom ter alguém pra quem ligar pra contar as notícias boas e as nem tanto.

E, adivinha?

Saímos mais uma vez em busca daquilo que não temos.

As paixonites já não nos satisfazem mais. Queremos alguém pra chamar de nosso. Nos cansamos dos joguinhos, da insegurança, de não saber o que passa pela cabeça do outro, das baladas, das pessoas que somem sem motivo, dos casos que não dão em nada, dos sexos frígidos. E então, nossa meta passa a ser buscar alguém com quem dividir a cama e a vida. De novo.

O lado bom é que temos o poder de escolha. Quando entendemos que é o amor, e não as manipulações ou as máscaras, o remédio pra todos os males do mundo, então podemos nos permitir amar. Sem ansiedade. Sem siricutico. Sem achar que o que dura muito é ruim. Sem a angústia de querer um prato novo em cada refeição. Quando aprendemos a usufruir da calmaria do amor, nos desalienamos e conseguimos enxergar por trás da névoa perigosa do ego – só então somos finalmente capazes de sair desse ciclo vicioso de amores e dores. E só então podemos ter o prazer de usufruir da única coisa real que temos na vida – o agora.