Arquivo | setembro 2012

DIFERENÇAS BÁSICAS

Cada um carrega contornos e nuances, paz e tragédia, razão e devaneio. Em cada um está depositado aspirações, conspirações, segredos, mas o que para uns é amor para outros é desespero, o que para uns é só viver para outros é intensidade, quando para uns é superfície para outros é profundidade. E assim o mundo segue cheio de paradoxos, pontos de vista, excentricidades, diferenças e idenficações.

Se as vezes somos tão parecidos outras somos diferentes, se as vezes somos os mesmos outras não somos iguais. Se por uma lado somos feitos da mesma matéria por outro temos a tal  subjetividade. Se no fundo somos complexos na superfície somos só gente. Cada história em particular é movida por ensinamentos, aprendizados e experiências adquiridas. Existem pudores que precisam ser respeitados, existem dramas que precisam ser expostos, existem palavras que não precisam ser ditas e lágrimas que tem de ser derramadas. É necessário entrar no universo do outro respeitando os limites, os sinais vermelhos, a hora de voltar.

FINAL FELIZ

Ela, uma mulher de olhos grandes, de nome complexo e marcante, de sentimentos consistentes e pegajosos, que carrega dentro de si um desejo: o de encontrar outro desesperado por profundidades, alguém que se permita ser tão intenso quanto ela, alguém que a ame incondicionalmente, desesperadamente ou que só mostre sentimentos simples, recíprocos. Um príncipe encantado num cavalo branco, com uma rosa na lapela lhe estendendo a mão, é assim que sonha, é assim que imagina que virá seu grande amor, com toda a pompa e circunstância que sua imaginação de mulher boba lhe permite. Mas parece que só os cavalos haviam cruzado seu caminho até agora. Desde sempre fora apresentada a face dissimulada, enganadora dos homens.

 

Prefere sentir a vida como um conto de fadas, como uma novela com final feliz. Deseja um grande amor, um homem avassalador. Aposta alto e na maioria das vezes quebra a cara, na maioria das vezes o que lhe resta são pedaços de um coração já cansado de sofrer, mas que sempre encontra um jeito de se reinventar. Sofre por todas as sequelas deixadas pela vida e cada amor que lhe abandona a própria sorte, como se não tivesse sentimentos ou fosse de ferro, cria nela uma dor insuportável como de uma espada cortando-lhe a alma, como se as dores dos outros amores viessem todas de uma vez torturá-la, dores de um aborto de amor, dores que ela não quer sentir de novo mas sempre lhe surpreendem, lhe pegam de surpresa. Nessas horas olha pro  céu em busca de respostas, de alento, de paz, de novas forças e sempre é atendida, parece que o altíssimo entende seus sinais de emergência e com Ele é sempre mais fácil se refazer. Em suas inúmeras tentativas de acertar já havia errado muito de palpite. Parece que o destino não está de bem com ela, que sua sina é essa: amar errado, amar quem não a quer, amar quem não foi feito pra ela. Em seus vinte e poucos anos já tinha achado o grande amor de sua vida umas quatro vezes, mas era só impressão, era só seu coração insistindo em seu objetivo, eram só seus olhos enganados com a beleza exterior, eram só seus ouvidos se enchendo de promessas absurdas e da boca pra fora. Enfim, leva a vida com seu histórico de tentativas amorosas falho, tentativas erradas mas tentativas. O que importa em tudo isso são as experiências que tira de cada relação, com cada um aprendeu uma coisa, com cada um fez história. E quando chegar seu príncipe encantado num cavalo branco, com uma rosa na lapela, lhe estendendo a mão, seu príncipe que lhe roubará o folego, os sentidos, as palavras, quando chegar, estará pronta, montará em seu cavalo sem olhar pra traz, sem pensar duas vezes e o “felizes para sempre” em fim acontecerá e lhe salvará de sofrer.

AOS MAIS CHEGADOS

Amizade é um sentimento genuíno capaz de unir duas ou mais pessoas que talvez nunca se encontrariam, é felicidade a dois, três, quatro, ou quantos couberem, é uma química perfeita entre almas irmãs que se identificam e se reconhecem fazendo nascer assim a categoria essencial para uma ótima existência, os amigos. Platão define amizade como: “uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro.” Drummond diz que “é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas.” Já George Eliot é preciso ao dizer que “a amizade é o conforto indescritível de nos sentirmos seguros com uma pessoa, sem ser preciso pesar o que se pensa, nem medir o que se diz.” Amigos são presentes que a vida concede para o nosso entretenimento, para que vive-la não seja entediante, frustrante, traumático porém amigo de verdade é edição limitada. Pode ser de um mês, um ano, de uma vida inteira aos amigos verdadeiros estão reservadas as melhores conversas, por mais bobas que sejam, os piores apelidos, por mais ridículos que pareçam, os maiores segredos e gargalhadas. Com eles podemos deixar de ser a pessoa pública e sermos apenas quem somos, sabem lidar com nossos defeitos e aproveitam nossas qualidades. Podem ficar tempos sem nos verem mas quando nos reencontram vem à tona a mesma intimidade de antes. Amigos verdadeiros sabem dividir também as infelicidades, nos emprestam o ombro, conselhos e ajudam a reerguer nosso mundo caído quando necessário. Enfim, viva os amigos que nos proporcionam dias melhores e conseguem enfeitar nossos rostos com alegria junto deles só nos resta viver.

A DEUSA QUE SOU

Sou mulher comum. Dessas de All-star e calça jeans. Só que quando vou pra cama resolvo ser Deusa. Mas para ser Deusa é preciso antes ser serva. Serva da mulher e do prazer que me habitam. O prazer é meu primeiro parceiro na cama, para quem me entrego antes do que a qualquer outro que vá se deitar comigo. Faço um trato com ele. Estamos a serviço um do outro, estamos juntos nessa viagem que vai começar.

Tambores árabes se agitam dentro de mim, sou odalisca. A natureza do meu instinto me faz índia da floresta. Sou a gueixa do oriente que sabe se doar por completo ao seu homem. Sou a mulata sacana do samba. Sou a espanhola do flamenco que com seu passo firme se sustenta como ninguém. Então, seios, ventre e quadris seguem o meu pulso interno. Danço para o sexo e deixo-o dançar em mim. É quando tudo acontece. O corpo expressa esse estado de espírito e dá inteligência para minhas pernas, braços, mãos e boca. Os sentidos aguçam e minha percepção se torna sutil. Já não estou ansiosa pelo gozo. Manipulo o prazer para sentir seu fluxo, sua gradação e escutar o anúncio do orgasmo que virá para coroar minha expressão pura de mulher. Ser Deusa não tem forma pré-definida. Ser Deusa não é para inflar o ego. Ser Deusa não é fingir um tipo que estereotipam por aí. A Deusa em mim pode ser o que quiser, pois sua presença é tão clara que tanto faz se naquela noite será dominadora ou dominada. Ela nem precisa daquela lingerie matadora porque quando surge completamente nua, gosta de se mostrar, de se exibir , pois não tem nada a esconder. Só quer ser. Podemos ser Deusas na cama e em qualquer outro contexto da vida. Quando quisermos realçar uma imagem, ou explicitar uma intenção, temos o poder de convocar à mente as expressões de mulher que queremos assumir. Mas, no meu caso, não preciso e não quero ser Deusa sempre. Este é um lugar pra onde vou quando me parece bom. Às vezes, quero mesmo é estar discreta, simpática e feliz em meu All-star e calça jeans.

QUEIJO E GOIABADA (eu e você)

Sempre achei triste a história de procurar a tampa da panela. Porque se só existe uma tampa pra cada panela do mundo então, que saco. As chances de uma metade encontrar a outra em alguma esquina desse mundão seriam desmotivadoras. A brincadeira seria daquelas que, de tão difícil, nem dá vontade de brincar. Prefiro então dizer que somos como queijo e goiabada. Diferente da panela que perde sua funcionalidade sem a tampa, essa mistura gastronômica somente potencializa o lado bom dos ingredientes. O queijo, sem o doce, ainda continua incrível. O doce, sem o queijo, ainda é sensacional. Mas a junção dos dois cria um sabor absolutamente novo, que surge cada vez em que você morde um tequinho de cada. A junção não faz deles menos importantes, mas exalta o que cada um tem de bom. Se separados eles caem bem, juntos dá vontade de lamber os dedos.

Então, digo sem peso que encontrei minha goiabada. Não que outros doces não serviriam – o gosto é bom com doce de abóbora, de figo, de carambola. Mas, pra mim, é especialmente bom com a goiabada. E pra isso, eu não preciso deixar de ser salgada e nem você de ser doce. Nossos sabores se completam. Porque a vida é incrível de qualquer jeito, mas se torna incrivelmente melhor quando temos companhia. Quando se acha alguém com quem dividir bons momentos. Mostrar foto é legal, mas ter alguém do lado presenciando aquele momento único com você é impagável. E, por isso, não tenho pretensões que você não queira se juntar a outros ingredientes durante a vida. Se o sabor deixar de ser bom, outras misturas precisam ser feitas. Não, não quero juras de uma combinação eterna. Amor, quando não cuida, é perecível. Mas enquanto o gosto descer incomparável pela garganta, te quero comigo. Vem, que juntos somos melhores. Que com você a palavra parceria faz sentido. Que com você o brilho nos olhos é mais forte. O sorriso sai mais fácil. A boca beija pedindo bis. O cafuné brota dos dedos. A pele agradece o toque. O coração não pega friagem. As borboletas procriam no estômago. Vem assim, leve e lindo, que com você o caminho brilha mais. Ignoremos o prazo de validade estipulado pelos pessimistas. O amor não azeda se a gente não descuida.

APENAS FELIZ

A felicidade é o grande questionamento e a maior busca dos seres humanos. Somos escravos dessa procura insaciável que nos faz tão bem. Embora definí-la seja arriscado e relativo correrei o risco. Felicidade é fragrância exalada por quem a sente sem culpa, sem constrangimento, sem doses econômicas, é sentimento que dispensa os frascos glamorosos mas dá-se de forma simples e inebriante, acontece aos que se permitem sentí-la de peito aberto e alma exposta, aos que querem fazer mais que apenas viver.

Sente-se a felicidade nas crises de riso, nos choros alegres que lavam a alma, nos discos antigos, nas músicas da sua vida que tocam por acaso em lugares talvez improváveis e te trazem a memória recordações e esperança. A felicidade está na saudade do que foi significativo, nas manhã de sol, nos fins de tarde com chuva na casa da vó, da mãe, na companhia de um amor, dos amigos. A felicidade genuína reside naqueles que se permitem estar o mais próximo possível de Deus.
Felicidade são as horas que passam devagar só pra te acompanhar, são os sentimentos que se tornaram mais sólidos pra te encantar, são os sorrisos, as gargalhadas que nascem desenfreadamente no seu rosto sem motivo específico te lembrando como é bom exercitar os músculos da face. Felicidade é sua forma de dizer ao mundo: “EU TÔ BEM , TÔ TRANQUILA, TÔ VIVENDO, NÃO ME INCOMODEM!”

Felicidade não é vendida, comprada, trocada é exclusividade dos sensitivos, dos que se opõem a viver na mediocridade, dos caçadores de sorrisos, dos garimpeiros de momentos memoráveis. Felicidade não é se encher de expectativas, morar nas utopias, embriagar-se de ilusões capazes de fazer rachaduras na alma. Definitivamente entenda que felicidade não é ter é ser, portanto, não busque ter a felicidade seja feliz.

Busque sua felicidade onde quer que ela esteja em outra cidade, outro país, em baixo da cama, em cima da mesa, no jardim, no entardecer, além do horizonte, dentro de outros olhos, nas ruas da cidade, enfim. Ria pro mundo e peça para vida doses extras de dias felizes e uma overdose de sentimentos inéditos para acompanhar. Leve na bagagem música, sonhos, sensações, palavras, diversão, afinal, ser feliz é como nos filmes sempre chega a hora em que os conflitos acabam, então esteja preparado quando ouvir da vida: -luz, câmera, ação! Ponha sua melhor roupa e saia por aí deixando seu rosto musicar sorrisos.

MINHA COMPOSIÇAO

Fui fabricada sob o som de cruisin, sem manual de instruções e as vezes dou defeito (dou defeito porque o mundo é defeituoso). Na minha fórmula contém fragilidades, medos, hesitações, perspectivas, entretanto, também sou feita de obstinações, sorrisos, alegrias bobas, urgências, cartas correspondidas, olhares que dizem e paraísos internos. Sou um infinito de ♫“pensamentos soltos traduzidos em palavras pra que você possa entender o que eu também não entendo.”♫. Sou uma mistura alemã, francesa, italiana, mas de brasilidade catarinense assumida. Ando sem eloquência para falar sobre os sentimentos do mundo, a inconsistência das relações humanas, guerras, mídias sociais ou qualquer outro assunto que não seja minha excentricidade. Só por esses dias quero estar desligada do mundo e contida no meu infinito particular. Sou constituída por sentimentos diversos e por amanhãs fantasiosos feitos de sonhos absurdos, corajosos e inocentes. Construíram-me com oscilações, variações de humor e vontades de sumir. Cada partícula minha carrega promessas divinas que me lembram quem sou e porque estou aqui vivendo e fazendo viver, nelas sempre me apego.  Já me refugiei em lembranças, recorri a fantasias, saltei muralhas, destruí exércitos, construí sonhos bons que me serviram de abrigo no deserto, reciclei e atualizei conceitos, quebrei promessas, reclamei do que se mostrou insuficiente para minha felicidade e acalmei tempestades e crises alheias com palavras simples (as palavras são ótimos antidepressivos, acreditem). O que fica de tudo isso é sempre bom e duradouro. Em suma, sou minhas abstinências, erros, acertos, atribuições, ações e reações. Sou essa complexidade ambulante que não necessariamente precisa ser desvendada, discutida e exposta, mas que de alguma forma precisa questionar e insistir no que é inalcançável e de difícil compreensão.

VOCÊ TEM MEDO DE QUE??

Nosso inimigo número um, sem dúvida, é o medo que gerencia todos os nossos fracassos, frustrações, relações desagradáveis e está por trás do nosso não arriscar. De acordo com a ciência nós nascemos com dois medos apenas: de barulho e de cair, todos os outros são adquiridos durante nossa vivência, nossa passagem pelo mundo, período que estamos nos autoconhecendo. Precisamos nos livrar deles, enfrentá-los, correr o risco. Já disse o sábio Augusto Cury: “quem vence sem risco, triunfa sem glória. Não tenha medo da vida, não tenha medo de vivê-la.” Muitas relações humanas são evitadas por causa do medo. Medo de confiar errado, de não dar certo, de entrar num caminho sem volta, de se arriscar, de se ver preso no interior obscuro do outro, medo de se ver a beira de um precipício e sentir atração pelo voo. Por medo muitos se entregam a monotonia do que é seguro, cômodo, por isso, não se arriscam, não ousam voar mais alto e nunca saberão se poderia ter dado certo, como seria viver do outro lado. Sentimos medo de sentir os dias iguais, de cair em uma rotina prisional, de nos aproximar de coisas entediantes que não edifiquem. São preocupações de todos nós, mas que muitos acabam entrando sem perceber. As pessoas dizem: “tenho medo de barata, escuro, cobra, disso, daquilo”, mas o que verdadeira as amortiza por dentro, se mostra peçonhento, causa calafrios, tremor, é o medo da monotonia, de estarem vulneráveis ao tédio das horas, medo da solidão motivo pelo qual os divãs dos analistas estão concorridíssimos. Saia debaixo do cobertor e ouse tocar nos seus medos, ouse enfrentá-los e desfazer a intriga entre sua covardia e sua coragem dando razão a última sem pensar que só existe uma alternativa: a de dar errado, por mais que dê você estará livre dessa prisão chamada medo, do casamento interminável com o “e se…” especialidade das suposições que te jurariam amor eterno até que a morte os separassem.

HOMEM DOS MEUS SONHOS

E eu chego em casa cansada. Tiro meus sapatos altíssimos pelo chão do quarto e sento no sofá, acabada. Ele chega, me grita atenção e fala como um doido de como foi seu dia estressante. Eu fico entre um “uhum” e outro. Entre uma risada e outra. Mas fico com olhos e ouvidos bem atentos, como uma menininha ouvindo uma história de um herói que salvou a cidade e ainda lembrou de passar no mercado para comprar meu iogurte predileto. Ele me faz massagens quando eu peço. Mas só aceita fazer caso eu prometa fazer nele também. Ele trabalha, dá um trato em seu visual, não entende porque não reclamo do happy hour ou futebol com os amigos, malha, se vira muito bem na cozinha, me ama gostoso e ainda arruma tempo para levar meus cachorros pra passear e ainda me pedir para levá-lo no cinema; adora que eu dirija pra ele. Às vezes, eu penso como é louco o amor. No começo, eu passava noites em claro só para descobrir a melhor forma de conseguir ter um encontro com ele. E, hoje, ele é quem me convida. No primeiro encontro, eu passei mais de duas horas inteiras me arrumando. Coloquei minha melhor roupa, maquiagem, salto agulha e me encharquei com meu melhor perfume só para agradá-lo. Hoje, ele me acha linda de moletom ou suada com meu cabelo preso num rabo de cavalo. Ele me espera. Ele fica ansioso para me ver. E me liga só para dizer que está com saudades. Ele diz que ama e que morre de tesão por mim, também. Ele me faz carinhos e arranhões que nunca tive. E me beija o corpo inteiro. E quando briga comigo por ciúmes é por medo de me perder. Ele é perfeito, mas não sabe. O meu lado possessivo até acha isso bom. Porque no dia que ele perceber que ele é dez mil vezes melhor do que qualquer homem nesse mundo, vai querer outra mulher dez mil vezes melhor do que eu. E há várias garotas perfeitas por aí. Mas não sei como, ele se encantou por minha falta de tempo, por minhas piadas sem graça e pela minha vida acelerada, pela minha mania de perfeição. Bendita a sorte a minha. Até hoje não sei o que falei para ter roubado a atenção dele. E, se um dia descobrir, falarei o dia inteiro. Trato-o como um rei tendo a certeza de que não sou merecedora de um lugar em teu altar. Mas me esforço tanto que ele acha graça até das minhas imperfeições. É a sorte de ser o sonho do homem dos seus sonhos.

PAPO DE MENINAS

Sabe, as mulheres têm de lidar com alguns dilemas que são, além de supérfluos e injustos, completamente alheios à natureza masculina. Por exemplo, se um homem transa com uma mulher logo na primeira noitada, ele se sente O Máximo, O Maioral. Já a mulher terá que enfrentar o julgamento das amigas, do próprio comedor, e até mesmo da sua consciência, caso não seja muito bem resolvida com sua sexualidade. Essa “culpa ” é algo que homem nenhum vai entender, pois oras, homem nunca recebe um adjetivo depreciativo em tal situação. Já a mulher, vai de “puta, vadia, fácil, sem valor” pra baixo. O que pra eles é frescura, pra gente é uma verdadeira disputa de valores. Sad but true.

E não é apenas na situação supracitada que esse moralismo injusto faz-se valer. Uma coisa que me intriga é a tal da “mulher oferecida”. Essa é aquela mulher que, quando tem interesse em um homem, deixa isso bem claro. Chega junto e chega chegando, sem aqueles pudores, receios e recatos que normalmente narram o comportamento da mulher durante o flerte. Dependendo da criatura, ela até força a barra e constrange o pobre do rapaz acuado, tornando a situação de caça desagradável para ambos. Tem também o caso da pobre boboca que fica secando o rapaz de longe a vida toda, desviando o olhar quando ele vira em sua direção e sem coragem sequer de jogar um sorriso. Começando pelo básico do básico, cuide-se. Apesar de que ser mulher não é lá muito fácil (além dos dilemas morais, temos ainda que arcar com menstruação, gravidez, depilação e afins) quando o tópico é a abordagem com intenções sexuais, a coisa é muito mais fácil pra gente. Uma mulher cheirosa e bem arrumada é agradável a todos os homens – inclusive aos casados e aos gays, mas acho que dar mole pra esses dois tipos não vai ser lá muito proveitoso pra você. E eu faço questão de enfatizar que não tô falando de “ser” bonita, e sim de cuidados básicos com a pele, dentes, cabelos e… ah, do que eu tô falando? Toda mulher sabe bem o que é se arrumar. Se pra você beleza interior é o que conta, melhor andar por aí com as mais recentes fotos da sua endoscopia, pois dificilmente se atrai a atenção de um homem se tiver sebosa ou fantasiada de pano de chão. Daí a mulher se arruma, passa 4 horas no salão fazendo mechas californianas, mais 2 horas fazendo mão-e-pé, mais 19 horas escolhendo roupa e fazendo maquiagem. Tudo isso pra voltar pra casa sozinha e dividir a cama com sua hesitação e neuras? Solta a franga, amiga. Na minha opinião, mulher tem mais é que se preocupar menos com julgamentos e se divertir mais. Normalmente, a inconsciente opressão natural e tradicional leva as mulheres ao terrível hábito de ter vontade, mas ficar se contendo. Como isso vem desde cedo, desde sempre, acaba virando rotina, e o que eu mais vejo por aí é mulher com cara de cu porque tá sem uma haste do amor pra sentar em cima faz 57 meses. Ou gatinha saindo no zero-a-zero. Linda como uma Barbie dentro de uma caixa de plástico. Intocada e imaculada, quando o legal mesmo é borrar o batom e acordar com os cílios pregados de rímel. Ok, agora você já está bem cuidada e disposta a escarrar sobre as amarras sociais que te prendem em nome de fazer o que bem quer. Tá solteira, tá sem macho, tá com fome. Imagine que você é uma pescadora faminta. Você não vai pegar peixe nenhum caso se jogue desesperada na água, agarrando qualquer sardinha gorda e lerda na base da unha; e menos ainda se ficar sentada no barco olhando os peixes passarem, e perguntando aos céus onde estão os homens legais. Observe a maré. Essa prática serve tanto para os homens quanto para as mulheres. Se o mar não tá pra peixe, procura outra área pra pescar ao invés de gastar suas fichinhas em vão. Aliás, observar a maré antes de agir em vão é fundamental em tudo nessa vida, desde xavecos a empregos enfadonhos que precisam ser deixados pra lá na primeira oportunidade boa. É questão de observar e dar o pulo quando o timing for correto. Enquanto se observa, nada te impede de dar a brecha. Muitas vezes o cara morde a isca já nessa etapa e a sua participação ativa como xavequeira termina aqui, é só deixar a coisa fluir e continuar dando corda para o futuro alpinista de seus seios arfantes. Tá ligada a tal da mulher charmosa? Tudo questão de linguagem corporal: ser sorridente, lançar olhares (sem encarar, porque mamãe ensinou que é feio), mexer no cabelo, encostar casualmente no braço dele. Depois de demonstrar que você tá na área, jogue sua isca. É aqui que a maioria das mulheres morre na praia. Jogar a isca é xis da questão, tem que ter AQUELA DOSE de bom senso pra chegar junto sem ser agressiva, demonstrar que se tem atitude e sabe ir atrás do que quer, mas ainda permitir que ele tenha o papel de “conquistador”. Abordar um homem, normalmente, é uma tarefa muito fácil. Você dá o impulso e ele faz o resto – isso se ele tiver interesse em você. Eu sou a favor da abordagem casual, do tipo chegar perto e puxar um assunto qualquer. Sim, é literalmente isso: UM ASSUNTO QUALQUER. Perguntar onde é o banheiro, que horas são, se você viu o novo clipe do Chiclete com Banana, se ele sabe onde ajustar a porra do relógio no seu celular novo, sei lá, qualquer abordagem inocente e furada serve, o importante é como você conduz a conversa depois de iniciar uma aproximação. Seja simpática, o papo tem que fluir, e quem faz a blasé não ajuda muito nisso. Dê risada, cara feia deve ser fome ou caipirinha com pouco açúcar. Eu tenho muitos amigos homens, todos bonitos, engraçados e bons de papo, e não sei se eles têm o dedo podre ou as mulheres chatas se multiplicaram em progressão geométrica. De vez em quando eles me aparecem com cada mulher entediante, que não sabe rir nem faz questão de se enturmar e participar das conversas, sabe? Tem que ver isso aí, mulherada. Não adianta ser “das certinhas” se sua presença é tão marcante quanto incenso de baunilha que passou da validade. Ser contida nem sempre é melhor. Se insinuar não é vulgar. Enfrentar os paradigmas pra fazer o que quer é uma sensação que você aprende a apreciar conforme vai se arriscando. Pra mim, mulher em tom pastel é um pé no saco. Lugar de princesinha passiva é sozinha e suspirando no alto de uma torre solitária.